domingo, 18 de maio de 2008

Água no telhado*
''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''
Chove nos meus dias, mansamente breve a chuva no meu peito, pétalas de fascínio pingando em lágrimas de amor, febril delírio, sono maior, pisadas dores neste solo que seco já foi de amores. Cai água no telhado, escorre pela janela, inunda-me o parapeito, lenta, lisa e fria, como a voz melancólica do vento, que é hoje serena e bela, mas lúbrica, cega, incipiente. Leve o seu bater, tão triste o dia, tão húmido entardecer, cálida, a noite cabe na tarde, o pôr de sol que não arde, a majestade das coisas envergonhada se poisa, em estátua desabrigada, tão batida pelas bátegas, tão fria, tão ensopada, na indiferença das pedras, as ondas no mar cavadas, os peixes nas fundas fragas, gaivotas ensimesmadas, desolação sob as asas, em terra cosem-se mágoas, há tricot numa janela, uma gata friorenta estica a pata, foge dela, da chuva lenta e miúda, uma coisa do silêncio, um sono doce e imenso, e eu no meu canto me penso, assim felino, sem corpo, sem mente, sem mais desejo, que ficar a ouvir a chuva fustigar o meu abrigo e em dócil encantamento, mergulhar nessa cadência e ser nada mais que gota, nada mais que oceano, nada mais que murmúrio, ou consciência e apenas em suma, folha seca, amarfanhado e preso nas páginas do livro profano, o livro dos meus dias e versos, palavras de chuva que do meu abrigo te mando, e nesse teu coração tão diverso, por teimosia hoje deixo meu desejo a ti doce lábios de mel.
__________________
...ªª@rthur@raújo*

Nenhum comentário: